De onde surgiu a paixão pela arte da magia?
L.M. - A paixão surgiu quando era miúdo, naquela fase em que
hoje gostamos de uma coisa, e amanhã gostamos de outra e, portanto, hoje é
ping-pong, amanhã é futebol, depois no dia seguinte é tocar viola e nessa
altura é normal, quase todos os miúdos gostam de magia e fazem truques e depois
alguns que gostam de futebol e vão para jogadores de futebol, outros gostam de
viola e transformam-se em músicos e outros, como eu, ficam com a magia e
estamos aqui.
C.J. Quais os projetos que mais gostou de realizar e porquê?
L.M. - Perguntar ou tentar encontrar como responder a uma
pergunta dessas: qual é o projeto que mais se gosta, é muito difícil, porque é
a mesma coisa que perguntar a um pai qual é o filho que ele gosta mais. Todos
os projetos que eu fiz, até hoje, têm e tiveram sempre em comum a paixão com que
os faço, portanto a dedicação que eu neles coloco é sempre muito grande porque
faço o que gosto. Quanto ao projeto mais entusiasmante, é sempre aquele que eu
espero idealizar amanhã.
C.J. - Alguma vez teve receio de não ser bem sucedido por
algum motivo?
L.M. - O sucesso é sempre uma forma de medida muito subjetiva. Em
todos os espetáculos existem surpresas, existem imprevistos, contratempos,
mudanças de rumo, mas idealmente ,pelo menos assim foi até hoje. Não são mudanças
de rumo que sejam suficientemente obvias para se converterem num fracasso, que o
público possa percecionar, mas é sempre o lado inesperado que tem idealizarmos
uma coisa, ensaiarmos, essa ilusão, escrevê-la, pensá-la, concretizá-la e
depois colocá-la perante o olhar, a participação e a reação de cada espetador
que é diferente de teatro para teatro e de noite para noite.
C.J. - Há algum episódio especial que o marcou por algum
motivo?
L.M. - Provavelmente o episódio que mais me marcou (aconteceu
porque eu nessa altura estava a fazer uma série de televisão) foi um acidente de automóvel que eu tive com 23 anos,
por aí, mas que foi espetacular. Foi espetacular o acidente e foi espetacular o
facto de ter acontecido. Eu ia sozinho, ninguém se aleijou, o carro foi perda
total, eu sei porquê que aconteceu, porque todas as pessoas que tiram a carta
no dia seguinte acham que sabem guiar, eu achava que sabia guiar e não sabia.
Portanto, quem tirar a carta lembre-se que no dia seguinte não sabe guiar e,
passado 20 anos ainda não sabe guiar, porque um carro é uma arma, pode-nos
matar a nós e aos outros. Mas, para mim, foi muito importante ter aquele susto
porque, normalmente, as pessoas perdem a imortalidade, quer dizer, acham que
são super-heróis e acham que as coisas só acontecem aos outros e, normalmente, essas ideias só as perdem aos 40 anos e eu perdi aos 23, o que foi espetacular. Porquê? Porque perder a imortalidade significa que nós damos mais valor a cada
momento das nossas vidas e eu passei a dar mais valor a cada momento da minha
vida a partir dos 23 anos, com 17 anos de avanço relativamente às pessoas, aos
outros todos, que só aos 40 é que começam a pensar. Eu não. Aos 23 disse:
“Isto pode acabar, temos de ter cuidado”.
C.J. - Qual é o seu maior sonho?
C.J. - Qual é o seu maior sonho?
L.M. - Acho que a resposta é mais ou menos como esta: todos
nós, seres humanos, seja qual for a área em que estejamos, seja o que quer que
façamos na vida, o sonho é sermos felizes e contribuirmos para o bem do círculo
de amigos e de família onde estamos inseridos ou, por exemplo, o meu sonho
desta noite era que todas e cada uma das pessoas, que vieram aqui ao teatro, fossem para casa satisfeitas e com a noção de que não perderam tempo, de
que vão mais enriquecidas pela experiência que tiveram de interação comigo, com
as pessoas que estavam sentadas ao lado. Foi possível, nestas quase duas horas, estimular a capacidade de sonhar e de imaginação. Portanto, esse foi o sonho de
hoje à noite.
C.J. - O que é que tem previsto para um futuro breve?
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