quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Entrevista ao Luís de Matos

Aproveitando o espetáculo "Chaos" que o mágico veio dar a Beja, no dia 17 de Novembro, as jornalistas Ana Rita Areosa e Catarina Leão estiveram à conversa com Luís de Matos. 

C.J. - Bom, em 1º lugar gostaríamos que nos garantisse que não vai desaparecer, porque com estas complicações todas que houve, isto ficou realmente um “Chaos”. Nós somos as jornalistas da Escola Mário Beirão, escrevemos para o jornal da escola que se chama “O Pião”. Passemos então às perguntas:
De onde surgiu a paixão pela arte da magia?
L.M. - A paixão surgiu quando era miúdo, naquela fase em que hoje gostamos de uma coisa, e amanhã gostamos de outra e, portanto, hoje é ping-pong, amanhã é futebol, depois no dia seguinte é tocar viola e nessa altura é normal, quase todos os miúdos gostam de magia e fazem truques e depois alguns que gostam de futebol e vão para jogadores de futebol, outros gostam de viola e transformam-se em músicos e outros, como eu, ficam com a magia e estamos aqui.
C.J. Quais os projetos que mais gostou de realizar e porquê?
L.M. - Perguntar ou tentar encontrar como responder a uma pergunta dessas: qual é o projeto que mais se gosta, é muito difícil, porque é a mesma coisa que perguntar a um pai qual é o filho que ele gosta mais. Todos os projetos que eu fiz, até hoje, têm e tiveram sempre em comum a paixão com que os faço, portanto a dedicação que eu neles coloco é sempre muito grande porque faço o que gosto. Quanto ao projeto mais entusiasmante, é sempre aquele que eu espero idealizar amanhã.
C.J. - Alguma vez teve receio de não ser bem sucedido por algum motivo?
L.M. - O sucesso é sempre uma forma de medida muito subjetiva. Em todos os espetáculos existem surpresas, existem imprevistos, contratempos, mudanças de rumo, mas idealmente ,pelo menos assim foi até hoje. Não são mudanças de rumo que sejam suficientemente obvias para se converterem num fracasso, que o público possa percecionar, mas é sempre o lado inesperado que tem idealizarmos uma coisa, ensaiarmos, essa ilusão, escrevê-la, pensá-la, concretizá-la e depois colocá-la perante o olhar, a participação e a reação de cada espetador que é diferente de teatro para teatro e de noite para noite.

C.J. - Há algum episódio especial que o marcou por algum motivo?

L.M. - Provavelmente o episódio que mais me marcou (aconteceu porque eu nessa altura estava a fazer uma série de televisão) foi um acidente de automóvel que eu tive com 23 anos, por aí, mas que foi espetacular. Foi espetacular o acidente e foi espetacular o facto de ter acontecido. Eu ia sozinho, ninguém se aleijou, o carro foi perda total, eu sei porquê que aconteceu, porque todas as pessoas que tiram a carta no dia seguinte acham que sabem guiar, eu achava que sabia guiar e não sabia. Portanto, quem tirar a carta lembre-se que no dia seguinte não sabe guiar e, passado 20 anos ainda não sabe guiar, porque um carro é uma arma, pode-nos matar a nós e aos outros. Mas, para mim, foi muito importante ter aquele susto porque, normalmente, as pessoas perdem a imortalidade, quer dizer, acham que são super-heróis e acham que as coisas só acontecem aos outros e, normalmente, essas ideias só as perdem aos 40 anos e eu perdi aos 23, o que foi espetacular. Porquê?  Porque perder a imortalidade significa que nós damos mais valor a cada momento das nossas vidas e eu passei a dar mais valor a cada momento da minha vida a partir dos 23 anos, com 17 anos de avanço relativamente às pessoas, aos outros todos, que só aos 40 é que começam a pensar.  Eu não. Aos 23 disse: “Isto pode acabar, temos de ter cuidado”.

C.J. - Qual é o seu maior sonho?

L.M. - Acho que a resposta é mais ou menos como esta: todos nós, seres humanos, seja qual for a área em que estejamos, seja o que quer que façamos na vida, o sonho é sermos felizes e contribuirmos para o bem do círculo de amigos e de família onde estamos inseridos ou, por exemplo, o meu sonho desta noite era que todas e cada uma das pessoas, que vieram aqui ao teatro,  fossem para casa satisfeitas e com a noção de que não perderam tempo, de que vão mais enriquecidas pela experiência que tiveram de interação comigo, com as pessoas que estavam sentadas ao lado. Foi possível, nestas quase duas horas, estimular a capacidade de sonhar e de imaginação. Portanto, esse foi o sonho de hoje à noite.

C.J. - O que é que tem previsto para um futuro breve?

L.M. - O futuro é sempre breve, porque a gente não sabe até onde é que vai haver futuro, a gente nunca tem noção de quanto tempo é que temos o prazer de poder fazer coisas e de ficar por cá e de acordar e voltarmos a ver a luz do dia. Portanto, nós temos projetos a longo prazo e a longo prazo são coisas em grande,  coisas como sermos bosa pessoas e inventar novas ilusões e ter amigos. E, basicamente, eu acho que uma das coisas que devemos tentar fazer é, durante o tempo todo em que interagimos com a família e com os amigos e com as pessoas à nossa volta, no trabalho, na escola, onde quer que seja,  tentar fazer a diferença e dizer: “ok, hoje fiz algo que tornou o dia especial”, porque viver é um privilégio tão grande e a vida é tão bonita que passar um dia sem sorrir é um crime ou passar um dia sem aprender alguma coisa nova é um crime. Não somos dignos de cá andar, temos a obrigação de tentar ser feliz, temos a obrigação de fazer felizes os outros e temos a obrigação de aprender e de ensinar. Portanto, se ao final do dia tivermos sorrido, tivermos feito alguém feliz, tivermos aprendido alguma coisa, eu acho que valeu a pena. Se não fizermos isso, no dia seguinte é melhor fazer o dobro para compensar.

C.J. - Muito obrigada pela entrevista e gostaríamos de agradecer em nome de todos os alunos, porque deixou uma bonita mensagem para nós escrevermos no jornal.




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