quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Entrevista a Tiago Pereira

Aproveitando a recolha e gravações que o Tiago Pereira esteve a fazer sobre a viola campaniça, no distrito de Beja, o Clube de Jornalismo esteve à conversa com aquele que assina o projeto “A música Portuguesa a gostar dela própria”.  
Assente na criação de um arquivo de música contemporânea portuguesa, abrangendo todos os estilos e interpretes (des)conhecidos, tem como principal objetivo fazer com que seja aumentada a autoestima dos portugueses pela sua cultura musical, aumentar a autoestima da música portuguesa. Trata-se de um património imaterial português e é assim que deve ser vista. 
Nasceu dentro da música popular portuguesa mas cresceu sempre com a vergonha e a negação do tradicional. Quando era adolescente, e andava no liceu, tinha o preconceito relativamente à música popular portuguesa. Acompanhava o pai (Júlio Pereira) para os concertos e achava uma “grande seca”. Tal como os mitos gregos, quando se tenta fugir ao destino o destino cumpre-se. Hoje, Tiago percorre o país a gravar “velhinhas” e a misturar a memória a elementos eletrónicos, modernos, para que se preserve e se aprenda a olhar para este património cultural oral.
“As pessoas não conhecem a música que existe em Portugal, não conhecem e há sempre esta tendência de sempre que é a música comercial. E a música portuguesa, ela própria, é um bocado a fuga à música da indústria, por exemplo, à música que passa na rádio, fugir à música que nós vemos na televisão, é procurar uma música que existe, que sempre existiu de pessoas que não lançam discos mas que gostam de cantar porque sim, e que celebram a música porque sim, e celebram porque gostam e pronto. Isso é o que nós defendemos. Isso é o que nos parece importante e cada vez mais tentamos fazer isso”.
O exemplo de forte identidade cultural acontece em Miranda do Douro, uma espécie de outro Portugal, onde se assiste à alfabetização da memória coletiva. Paulo Meirinhes, músico e professor, criou um coro constituído por 50 miúdos, a cantar em mirandês e a tocar pandeiro. Pensa-se assim que talvez a memória coletiva esteja salva.
Na Madeira acontece algo semelhante. “Em Portugal toda a gente diz mal do Alberto João Jardim. Alberto João Jardim instaurou que as escolas, na Madeira, aprendessem a música tradicional madeirense, nas escolas primarias. Portanto, há medidas que têm de ser logo implantadas. Tu começas por aí, eles têm que pensar desde de pequenos, pensar por que é que o preto que canta blues na América está mais perto da cultura deles do que o senhor que canta alentejano enquanto planta batatas na horta atrás da casa deles. E é mais fácil para eles gostarem de blues do que do senhor que canta canto e que é vizinho deles e que eles veem todos os dias.
Tu vais a uma escola e se perguntares quais os grupos portugueses preferidos eles dizem quase todos três nomes, os de sempre, que tu já sabes que são os de sempre, que são os Deolinda e que são não sei quê, portanto o que acontece é que não conhecem. Não chega a eles e, portanto, nós ficamos contentes que a música portuguesa cada vez tenha mais gostos e agora já vai nos 19/ 18 mil . O movimento cresce e tu ficas contente com isso. Agora é preciso saber dares-lhe a volta, tu tens que saber como é que lhes vais dar a volta, não o vais fazer com documentários que têm 50 anos, eles não querem. A tradição hoje não é a mesmo que 50 anos, tens é de lhes explicar que a tradição do hip hop,  que eles gostam,  é tradição oral e que, da mesma forma que eles têm hip hop, têm velhinhos que cantam à desgarrada e que no Alentejo também cantam outros tipos, como o baldão e que isso é o mesmo rap e que é a mesma coisa.”
Para Tiago Pereira é fundamental aprender a olhar a nossa cultura tradicional sem preconceitos, gostar da música portuguesa, ela própria.


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