Clube de Jornalismo: Boa tarde, antes de mais gostaríamos que nos
garantisse que não nos vai dar nenhum “xuto” ou pontapé até ao fim da
entrevista.
Kalu: Não, não se preocupem.
Nós sabemos que tem uma grande
proximidade com a cultura alentejana. O que acha dela?
Kalu: Quanto mais vezes venho ao Alentejo, mais apaixonado fico
por ele. Quando era jovem, costumava ir com o meu pai, quando ele ia até ao
Alentejo comprar cortiça para a trabalhar. Era uma viagem longa, do Porto até
ao Alentejo, e para mim era uma aventura. A gastronomia alentejana é para mim
das melhores do mundo e as pessoas são muito simpáticas.
C.J: O que é que nos pode contar sobre o seu percurso nos Xutos?
K: Até agora tem sido muito bom, é lutar por aquilo que
gostamos e podermos viver disso. Deus queira que um dia vocês consigam também
viver fazendo aquilo que mais gostam, tal como eu com a música. Eu não estava à
espera, pensava que ia ficar a trabalhar na fábrica de cortiça para sempre,
mas, afinal, safei-me. O meu percurso nos Xutos tem sido ótimo: ganhei grandes
amigos, como se fossem da minha família, estou com eles diariamente. Tenho que
agradecer esta oportunidade que me foi dada.
C. J: Tendo em conta que se
conhecem há tanto tempo, terão com certeza algum ritual, alguma coisa para dar
sorte antes dos concertos?
K: Não, nada de especial. Temos uma conversa antes dos
concertos, um momento de concentração, mas às vezes ainda entramos em palco a
tremer, ao fim destes anos todos ainda ficamos nervosos.
C.J: Vocês já atuaram muitas vezes e em muitos sítios
diferentes. Qual a sensação de, após tantos anos, continuarem a encantar e
atrair novos fãs?
K: Até a uma determinada altura isto era um mistério. O que
importava é que nós nos divertíamos a tocar as músicas que mais gostávamos, e
assim, essa alegria é transmitida aos nossos fãs. Só me apercebi de tudo isto,
de que afinal tínhamos alguma importância, quando recebemos a medalha do
Presidente. A nossa banda é transversal a várias gerações: se calhar os vossos
pais e avós ouviam-nos, e qualquer dia os vossos filhos também... Sinto que os
Xutos vão ser lembrados nas coletâneas dos “êxitos de sempre” da música
portuguesa.
C.J: Em quantas cidades já atuaram?
K: Não sei bem… se disser 150 de certeza que não estou a
exagerar.
C.J: Qual a sua favorita?
K: Cá em Portugal, a primeira vez que tocámos em Beja foi em
83, n’ Os Infantes, foi muito giro. Tenho uma predileção especial pelo Porto,
por ser de lá, talvez. No estrangeiro gostei de Barcelona, Paris e Toronto, são
cidades muito interessantes.
C.J: Não há algo que queira fazer para além da música, sente-se
realizado?
K: Sinto-me completamente satisfeito, vou continuar até ter
forças. Mas há algo que eu gosto de fazer, que a minha mulher diz que tenho muito
jeito que é a canalização e carpintaria. Eu é que faço as reparações lá em
casa.
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